terça-feira, 9 de junho de 2015

Capítulo 1- Sola do pé

Barulho de vidro quebrando na esquina da rua. Os gritos de socorro ecoam durante a madrugada. Esses gritos rompem barreiras incríveis: a distância de dez casas até chegar a minha, o portão da garagem que dá acesso a rua e minha janela que dá acesso a garagem. No auge do sono as quatro da madrugada, não pude discernir se era um som real ou apenas o  eco de um sonho que nunca mais lembrarei, tornei a dormir.

Cinco minutos para as seis da manhã. Despertador. Acordei. Ligo a televisão. Banho. Café. Visto a roupa. Chaves, carteira, celular, tudo na mochila. Saí de casa.

Uma manhã parcialmente nublada e os vizinhos persistem em ficam na neblina à beira de seus portões com as cabeças viradas para a esquina, onde ainda permanecia o aglomerado de guardas desviando o trânsito, outros verificando algo no chão que até então não percebi o que era até ver o solado dos pés descalços e pálidos virados para mim que já não andava mais pelo meio da rua mas já havia mudado para o lado posterior ao amontoado de guardas, eram pés de alguém e esse alguém não importa agora, pensei. São quinze para as sete. Atrasado.

Cheguei ao trabalho. Assinei o ponto. Fui ao armário.Abri-o.

O frio que desceu pela minha espinha não há termômetro que possa medir sua temperatura nem velocímetro a velocidade com que desceu por minhas pernas as deixaram bambas. Um envelope estava dentro de meu armário. Caro leitor, é claro que não fui eu que o coloquei lá, então porque acha que iria me assustar tanto?


Um envelope de papel madeira, fino e com um pequeno relevo denunciando o que poderia ser o objeto guardado ali dentro. O lacre simples de abrir, um barbante enrolado numa presilha  dizia que ninguém a não ser eu teria acesso a ele, portanto, não haveria necessidade de lacres mais difíceis. Peguei-o finalmente, algo leve e mole em seu interior, ao puxar de dentro do armário, um cartão com gotas vermelhas (só depois percebi que era sangue), as mãos trêmulas levaram o cartão aos meus olhos míopes que leram:



Continua...